Estudo de Caso na Praia de Piçarras, Enseada do Itapocorói/SC
ALMEIDA, L. R. Estudio de dinâmica litoral y evolución de la zona sur de la Playa de Piçarras (Santa Catarina/Brasil). Tesina de Máster (Máster em Gestión Integrada de Zonas Costeras). Universidad de Cantabria, Santander, 2013. Publicação.
OLIVEIRA, J. G. Modelagem Numérica da Resposta do Perfil Praial a Eventos Extremos em Praias de Enseada: Estudo de Caso da Enseada do Itapocorói, SC, Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Oceanografia) – UFSC, Florianópolis, 2013.
Localização da área de estudo
A praia de Piçarras está localizada no município de Balneário Piçarras, litoral centro-norte do Estado de Santa Catarina e faz parte, juntamente com a praia Alegre (Penha/SC) e a praia de Itajuba (Barra Velha/SC) da enseada do Itapocorói. Possui cerca de 8,5km de extensão, sendo delimitada ao norte pelo promontório de Itajuba e ao sul pela desembocadura do rio Piçarras/Furado (ARAÚJO, 2008). É considerada um importante centro turístico regional, visto que sua população é de aproximadamente 11 mil habitantes fixos e cerca de 100 mil habitantes nos meses de verão (SANTA CATARINA, 2012).
Identificação do problema
Na região vem ocorrendo a implantação de estruturas antrópicas desde antes da década de 1970, podendo-se citar a construção de casas e da avenida beira mar sobre a berma da praia, a retificação do canal e fixação da barra do rio mediante a construção de dois guias-corrente e o aterro de uma laguna de cerca de 350m de comprimento. Como consequência, desde a década de 1980 vem havendo retração da linha de costa e perda de volumes consideráveis de sedimento, sobretudo na porção sul da enseada, onde se verifica maior pressão urbana. Concomitantemente, medidas de contenção do avanço da erosão foram tomadas pelo Poder Público, porém, nenhuma com êxito em longo prazo.
A aplicação das metodologias e da ferramenta SMC-Brasil no litoral de Santa Catarina
Com o objetivo de calibrar e validar o modelo OLUCA (modelo de ondas) e calibrar o modelo PETRA (modelo de resposta do perfil de praias a tempestades) para a enseada foram simulados oitocentos casos de ondas para o período entre agosto e setembro de 2011 em dois pontos distintos. Os dados de entrada no modelo foram medidos por um ADCP (AWAC) localizado próximo a Ilha de Itacolomis (ADCP3) e os dados utilizados para calibração e validação foram amostrados por ADCPs que se encontravam no interior da enseada (ADCP1 e ADCP2).
Os dados obtidos por meio das simulações de ondas foram utilizados como dados de entrada no módulo PETRA do SMC-Brasil para verificar a alteração de três perfis praiais durante um evento de tempestade ocorrido no período analisado, P03, P11 e P39. Os resultados obtidos pelo PETRA foram comparados com dados medidos após o evento de tempestade simulado e apresentaram um coeficiente de determinação maior que 0,9 para todos os perfis, indicando uma boa reprodução da realidade pelo modelo (OLIVEIRA, 2013). Analisando os resultados pôde-se aferir que os modelos podem ser aplicados para análises da dinâmica e das alternativas de obras costeiras propostas.
Simultaneamente, a fim de contribuir para o entendimento do funcionamento da praia de Piçarras, foi realizada uma avaliação da sua dinâmica junto à zona de erosão acentuada (ZEA), utilizando as metodologias e a ferramenta SMC-Brasil para a construção de cenários. Além disso, foi avaliado o cenário atual adotado pela prefeitura de Piçarras, que tentava mais uma vez solucionar o problema da erosão nessa praia (ALMEIDA, 2013).
A partir da avaliação dos cenários de dinâmica litoral, com análise da forma em planta e perfil, a curto e longo prazo, foi proposto o modelo morfodinâmico de funcionamento da zona de estudo. Esse é composto por três setores de análise: setor 1 (zona norte/central da praia de Piçarras), setor 2 (zona sul da praia de Piçarras), setor 3 (praia Alegre e costão sul). Em longo prazo (escala decadal) foi verificado que a retificação do rio Piçarras/Furado foi o principal motivo de mudança na dinâmica da zona de estudo (setor 2), com a eliminação de um sistema de aporte de sedimento e mudança do sistema de circulação (ARAÚJO, 2008). Os cenários indicaram que, no setor 1, a corrente muda de direção dependendo da obliquidade que chegam as ondas.
Tentando mais uma vez solucionar o problema da erosão, a prefeitura de Piçarras começou um novo projeto para conter o sedimento e preencher a ZEA da praia de Piçarras. Esse projeto foi avaliado e verificou-se com base nos cenários para ondas e transporte de sedimentos, que a situação que foi proposta não é estável em planta e perfil, continuando no futuro o atual problema de erosão, sendo necessária uma manutenção, com aportes de areia periódicos, principalmente porque os espigões construídos são curtos.
Com o objetivo de gerar uma condição estável, com mínima manutenção (aporte de areia) foram propostos dois cenários alternativos:
- Uma única praia, sendo que o espigão da desembocadura do rio Piçarras/Furado deveria ter um comprimento (340m) suficiente para conter a futura forma em planta e perfil de equilíbrio. Propõe-se utilizar o mesmo espigão norte da obra atual da prefeitura. Nessa alternativa o volume de sedimento necessário seria de 1.500.000m³;
- Divide-se a praia em duas, cada uma independente, ficando ambas em equilíbrio estático. Propõe-se utilizar o mesmo espigão norte da obra atual da prefeitura. O espigão intermediário deveria ter um comprimento total de 280m e o espigão adjacente ao rio deveria ser aumentado para que chegue a um comprimento de 225m. A quantidade de areia necessária para preencher essas duas praias seria de aproximadamente 900.000m³.
Maiores detalhes destes trabalhos podem ser encontrados em Almeida (2013) e Oliveira (2013).
Referências
ARAÚJO, R. S. Morfologia do Perfil Praial, Sedimentologia e Evolução Histórica da Linha de Costa das Praias da Enseada do Itapocorói – Santa Catarina. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia Ambiental) – UNIVALI, Itajaí, 2008.
SANTA CATARINA. Portal do Governo do Estado de Santa Catarina. Seção de Municípios. Disponível em: <http://www.sc.gov.br/conteudo/municipios/frametsetmunicipios.htm>. Acesso em: 6 mar 2013.